A Folha anunciou que não publicará mais conteúdo no Facebook. Mas por que a queda de braço entre a imprensa e a rede social aumentou nas últimas semanas?

O jornal brasileiro que concentra o maior número de seguidores no Facebook, com cerca de 5,95 milhões pessoas inscritas em sua página, acaba de anunciar que não vai mais atualizar suas publicações na rede social. A decisão da Folha de S. Paulo acontece em um momento em que os maiores veículos de comunicação do mundo investem pesado para diversificar sua atuação no meio digital, visando driblar a perda de audiência tanto nas versões impressas dos jornais quanto nos canais abertos e fechados de televisão. Para se ter uma ideia do tamanho do potencial das redes no consumo de informação no País, pesquisa divulgada no ano passado pelo Cetic aponta que mais de 107 milhões de brasileiros estão conectados, sendo que 46 milhões deles acessam a internet somente pelo celular.

Por que então teria a Folha tomado uma atitude tão drástica, em meio a um universo de milhares de leitores potenciais no ambiente digital? A polêmica é internacional e nós contamos para você. No dia 12 de janeiro passado, a companhia de Mark Zuckerberg anunciou uma mudança no algoritmo do Facebook, que passou a favorecer a visualização de posts de amigos, familiares e grupos, reduzindo a alcance das publicações de marcas, empresas e, consequentemente, dos veículos de imprensa, causando um rebuliço entre os “cabeças” das maiores publicações do mundo. Tudo porque, além de uma menor visibilidade, eles ainda ainda têm que lidar com os desafios que são as constantes adaptações para novos formatos de mídia e do próprio algoritmo para não perder audiência.

Imediatamente ao anúncio do Facebook, começaram a surgir críticas severas dos veículos de comunicação mundo afora, ao alegarem que os objetivos das mudanças na plataforma são meramente comerciais, além de diminuir o acesso das pessoas às notícias apuradas com responsabilidade, enquanto um mar de fake news (notícias falsas) invade a rede social todos os dias, criando “bolhas de informação” e limitando o pensamento crítico das pessoas. As argumentações da Folha vão nessa mesma linha. O jornal alega ainda que o volume de interações obtidos nas dez maiores páginas de jornais brasileiros caiu 32% no Facebook em janeiro de 2018, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, enquanto “o espaço ocupado pelos mecanismos de buscas como o Google saltou de 34% para 45%”.

Sim, os argumentos da Folha fazem sentido e estão embasados em dados, ainda que gerados pela própria publicação. Mas as razões seriam fortes o bastante para abandonar as atualizações de uma página com quase seis milhões de fãs? Diríamos que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Afinal, são cerca de 102 milhões de brasileiros no Facebook e, enquanto esta rede social existir com esse potencial, não convém para uma marca ou veículo não estar nela. Por outro lado, o Facebook poderia se atentar mais à questão da propagação das notícias e perfis falsos que estão invadindo a rede social, promovendo desinformação e, em muitos casos, discursos de ódio que não combinam nem um pouco com a imagem de diversidade que o Facebook se esforça para passar. Além disso, a correlação com os veículos de imprensa, canais de TV e vídeo poderia ser aprimorada.

Como um jornal pode se dar bem no mundo digital?

Diante de tantos desafios, resolvemos buscar um exemplo de um jornal que manda muito bem no quesito diversificação dos formatos de informação no meio digital. Ainda que seja bastante crítico ao Facebook, o britânico The Guardian se sai bem na rede social. Assim que a notícia da mudança no algoritmo da rede social foi divulgada, a publicação fez um post orientando seu seguidores à clicarem no botão “seguir” e na opção “ver primeiro”, assim cada novo post entraria no feed de notícias do leitor. Além disso, a maior sacada do jornal inglês está nas inúmeras possibilidade de compartilhamento de seu conteúdo. Por exemplo, se você selecionar qualquer trecho da notícia que está lendo, ele te dá a possibilidade de publicá-lo no seu Twitter ou enviar por e-mail para alguém.

Apesar da Folha possuir o mesmo recurso de compartilhamento, no Guardian, você consegue “copiar e colar” qualquer trecho de notícia em um documento, por exemplo. Nesse quesito o protecionismo da Folha é grande. Quando tentamos fazer o mesmo para citar o próprio jornal neste artigo, uma mensagem automática sobre autorização de proteção de conteúdo é colada automaticamente, argumentando que a medida “têm como objetivo proteger o investimento que a Folha faz na qualidade de seu jornalismo”. Uma contradição, uma vez que o veículo critica a rede social por oferecer possibilidade de remuneração para o jornal somente pela venda de anúncios dentro da plataforma.

Assim, fica difícil saber se a motivação da Folha é realmente uma questão de sua missão jornalística ou apenas um problema de concorrência por audiência e receita. Enquanto isso, veículos como o Guardian e o norte-americano The New York Times (que desenvolve um trabalho maravilhoso no Stories do Instagram) inovam nas ferramentas digitais e mídias sociais para manterem seus leitores nessa nova era da informação.