Nas últimas semanas, o Facebook vem sendo alvo de um verdadeiro escrutínio público: a informação de que uma empresa no Reino Unido, a Cambridge Analytica, teria se apropriado de informações privadas de cerca de 87 milhões de perfis (dados confirmados pela própria rede social) para utilizá-las em campanhas políticas. O caso chocou o mundo, obrigando a companhia a repensar o uso dos dados de seus usuários e impactando o que existe de mais valoroso no mercado: a confiança.

Os primeiros reflexos dessa crise foram imediatos: o dono da Tesla Motors, Elon Musk, retirou a página da empresa do Facebook; o Congresso dos Estados Unidos convocou o dono da rede social, Mark Zuckerberg, a testemunhar pessoalmente sobre o escândalo e o próprio CEO do Facebook fez um mea-culpa em um post em seu perfil, dizendo que errou no que diz respeito à proteção dos dados dos usuários. “Se não conseguimos [proteger seus dados], então não merecemos servi-los”, escreveu.

Para tentar contornar a crise (e dar uma resposta mais efetiva a seus acionistas), o Facebook tem planejado alterações drásticas na maneira como coleta informações dos usuários. Para quem anuncia na rede social, as maiores mudanças devem ocorrer já nos próximos meses: não será mais possível, citando apenas um exemplo, usar mailings para criar Públicos Personalizados sem a comprovação de que o anunciante tem autorização para utilizar os endereços eletrônicos de seus clientes.

No mercado, há uma enorme desconfiança sobre se, de fato, o Facebook conseguirá cumprir com a promessa. Na semana passada, fui questionado algumas vezes por possíveis clientes, além dos de casa, sobre a relevância do Facebook em termos estratégicos para as marcas e sobre se as pessoas continuarão acessando suas contas com a mesma frequência. Minha resposta é sempre a mesma: “não tenho certeza”. Costumo comparar o Facebook à “TV Globo das mídias sociais”: seu alcance para gerar awareness em campanhas publicitárias é gigantesco se considerarmos sua capilaridade. Mas é fato que menos acessos implicam em menos alcance e, portanto, é possível que isso reflita na efetividade dos anúncios.

No entanto, o que deveria ser discutido não é somente se as empresas vão deixar de anunciar no Facebook, mas se os usuários continuarão trocando informações dentro da plataforma com a mesma assiduidade e frequência que têm trocado hoje. Não é possível afirmar nem que sim nem que não. Também não é possível saber se as empresas usarão menos a plataforma, se ela perderá relevância ou deixará de existir, como insistem os mais alarmistas.

Até porque, uma rede social com o porte do Facebook levaria anos até perder total relevância entre o público. Estamos falando de um universo de 2,1 bilhões de usuários no mundo (as empresas de Zuckerberg somam 6,6 bilhões de perfis). Para se ter uma ideia, a primeira da lista após as redes do mesmo grupo do Facebook, a chinesa QZone, soma um público de 632 milhões. Você lembra do finado Orkut? Então, em 2011 ele tinha somente 27 milhões de usuários, época em que o Facebook bateu a marca de 30 milhões, ultrapassando o rival que foi encerrar suas atividades somente quatro anos mais tarde. Imagine com 2,2 bilhões de perfis, quanto tempo levaria para acabar.

Eu ainda acredito no Facebook como mídia, ferramenta de interação e compartilhamento. E não acredito, pelo menos por enquanto, numa “nova” rede social assumindo o lugar das que já existem, incluindo aqui o Instagram, Twitter e YouTube, devido ao fato de já possuírem audiência e alcance consolidados. O que sim tenho observado é uma pulverização dos usuários entre essas outras redes, com destaque especial para o Instagram.

Entre os clientes da agência, o app tem despontado como sucessor imediato do Facebook e, veja, sem colocá-lo necessariamente de escanteio. Um dos nossos parceiros viu sua base de seguidores no Instagram crescer mais de 1.900% nos últimos dois meses, com o consequente aumento no engajamento. Se o Instagram já era uma rede social relevante, é possível que agora, após o imbróglio envolvendo o Facebook, os esforços dos usuários (e das empresas) em produzir conteúdo para o app sejam cada vez maiores e consistentes.

Também é inevitável não comentar sobre os nossos direitos nesse cenário. Quando concordamos com a criação de um perfil numa rede social, estamos automaticamente autorizando o uso de nossos dados pelas plataformas. Mas isso, evidentemente, não dá o direito ao comércio indiscriminado e ilegal desses dados. Usar nossas informações pessoais em campanhas políticas ou receber um e-mail marketing sem ter feito nenhum cadastro é um risco que corremos diariamente, mas que não podemos aceitar que ocorra de qualquer maneira.

É preciso, antes de discutir sobre o “futuro” do Facebook, questionar e refletir sobre o papel que ele e as outras plataformas digitais têm para as pessoas. Elas continuam úteis para nos comunicarmos com os nossos amigos? Elas são importantes para a troca de informações entre determinados grupos? Elas transformam as vidas das pessoas? Contribuem para uma causa? Geram valor para quem as usa? E, nesse sentido, como as marcas devem se posicionar para efetivamente impactar seu público?

O Facebook mantém seu papel vital na construção de uma sociedade cada vez mais conectada. Não é agora que vou deixar de acreditar nisso. Mas quero ter certeza que tudo será feito da maneira mais transparente possível e que eventuais mudanças na rede social não beneficiem somente alguns grupos (ou somente o próprio Facebook, como é mais fácil pensar). Quer seja na esfera pessoal ou profissional, as redes sociais terão a importância que pessoas e empresas derem a elas. Será sempre uma relação mútua de confiança e respeito.

Maiores redes sociais do mundo (2017)

Empresas Zuckerberg:

Facebook: (2,2 bilhões)

WhatsApp: (1,3 bilhão)

Messenger: (1,2 bilhão)

WeChat: (938 milhões)

Instagram: (700 milhões)

Demais redes:

Qzone:  (632 milhões)

Weibo: (340 milhões)

Twitter: (328 milhões)

Pinterest: (175 milhões)

Snapchat: (166 milhões)

Vkontakte: (95 milhões)

Fonte: Techmundo


* Colaborou Fabiola Binas